A ARTE NOS TRIBUNAIS O ESBOÇOS DO DRAMA HUMANO.

Capturando o drama humano, desenhistas de salas de audiência transformam momentos tensos em imagens icônicas dentro de tribunais federais e estaduais.

Esses artistas visuais trazem o elemento humano aos procedimentos jurídicos trabalhando sob pressão máxima, rapidez e precisão com olhar afiado, eles renderizam os procedimentos nos tribunais. Uma prática consolidada especialmente em casos federais onde câmeras ainda são restritas. Utilizando ferramentas como carvão, grafite, marcadores de ponta de feltro: ferramentas simples para traduzir emoções complexas capturando o drama, a expressão, a tensão e transformando o julgamento em imagem. Os “courtroom sketchs” (esboços do tribunal, em tradução livre). Existe pelo menos desde o século XVI. Mas foi a partir da metade do século XIX que desenhistas foram adotados federalmente para proteger e defender a integridade pública dos réus e impedir uma “exposição midiática” em casos de audiências famosas nos EUA .

Os desenhistas de tribunal comparecem aos procedimentos judiciais como membros do público ou como meios de comunicação credenciados. Os juízes podem exigir ou permitir que os artistas se sentem em uma área designada ou podem sentar-se em assentos públicos em geral

Ao longo dos séculos, políticos, empresário, músicos, artistas, cantores, modelos, celebridades e atletas como O.J Simpson, Sean “Diddy Combs, A$AP Rocky, Michael Jackson, Rihanna, Blac Chyna, Bill Cosby Jay-Z, R.Kelly, Megan Thee Stallion, Chris Brown e outros acabaram eternizados nos tribunais através dos esboços que cruzam o limite entre crimes & arte.

AQUI ESTÃO ALGUNS ESBOÇOS DE TRIBUNAL EM GRANDES CASOS LEGAIS ENVOLVENDO ARTISTAS, MAGNATAS E CELEBRIDADES.

1 O.J. SIMPSON

O julgamento de O.J. Simpson, ex-astro do futebol americano, protagonizou um dos momentos mais midiáticos da história criminal e judicial dos Estados Unidos um espetáculo de proporções cinematográficas transmitido praticamente em tempo real. Em 1995, O.J foi acusado pelo assassinatos de sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e do amigo dela, Ron Goldman.  A tensão, o drama racial, o poder das celebridades e a divisão da opinião pública transformaram o caso em um símbolo da América dividindo o país em dois, durante os anos 90. Como câmeras são restritas em determinados julgamentos, os artistas de tribunal se tornaram os únicos olhos do mundo e naquele caso o experiente Bill Robles, já conhecido por seus esboços de Charles Manson e Michael Jackson, foi responsável por renderizar em traços rápidos e densos o teatro humano dentro daquele tribunal: os advogados em performando no auge, o júri em choque, e O.J. se achando intocável, possuido em uma aura de mistério e encenação.

Os esboços feitos pelos desenhistas criminais Mona Edwards e Bill Robles feitos durante esse julgamento registra a arte tentando encontrar o impossível, expressões congeladas e tensões visíveis no rosto de um homem negro em julgamento global.

2 BILL COSBY

O julgamento de Bill Cosby ex-ator e comediante Norte Americano, ocorreu em 2018 quando o comediante foi denunciado por inúmeros crimes como estupro, agressão,, assédio sexual e abuso de menores. Considerado um dos homens mais poderosos da TV durante os anos 80, aplidado carinhosamente como ˜Pai da América” foi considerado culpado de três acusações e condenado a cumprir dez anos de prisão.

Os esboços do tribunal de Bill Cosby foram desenhados por vários artistas, incluindo Christine Cornell, Jane Rosenberg e Lauren Tamaki, que trabalharam para capturar o drama e os principais momentos do processo publicados por The New York Times e Times, Christine Cornel disse que Bill Cosby era fácil de desenhar pois se assemelhava a uma gárgula com traços muito trágicos e expressivos.

3 MICHAEL JACKSON

Michael Jackson também foi eternizado por artistas de tribunal em diferentes fases de sua vida pública diante da lei. O primeiro esboço do Rei do Pop ocorreu em 1996, durante um processo discreto relacionado ao especial de televisão “Jackson Family Honors”, no qual Michael subiu ao palco sozinho sem a presença dos irmãos, o episódio marcou o início de uma série de atritos familiares e jurídicos entre os Jacksons.

Mas o capítulo mais intenso veio em 2005, quando Michael Jackson enfrentou acusações de abuso sexual infantil em um julgamento histórico realizado em Santa Maria, Califórnia. O tribunal estava lotado de jornalistas, fãs e câmeras. Quando o veredito de inocência foi lido, o artista não moveu um músculo apenas levou um lenço ao rosto, assoou o nariz, e permaneceu imóvel. Seus advogados choraram. O público prendeu a respiração

Durante quase quatro meses o desenhista Bill Robles, um dos nomes mais reconhecidos da arte forense americana foi responsável por retratar Michael de perto em cada sessão, registrando em traços precisos a deterioração física e emocional do astro mundial, um homem imortalizado pelo seu brilhantismo e dedicação, agora reduzido à fragilidade humana.

Nos esboços, Michael aparece com semblante pálido quase esverdeado, trajes escuros e um olhar gótico, distante da estética alegre de Neverland

Não fui traído ou enganado por crianças. Os adultos é que me decepcionaram.” Michael Jackson

Mesmo absolvido de todas as acusações, Jackson passou o resto da vida tentando reconstruir sua imagem pública um esforço interrompido pela sua morte repentina em 2009. Bill Robles registrou em seu diário o impacto daquele caso sobre sua própria carreira: 

Os dias em que 28 jornalistas nacionais e internacionais filmaram meu trabalho foram os melhores dias da minha trajetória. Financeira e profissional.

4 PHARRELL WILLIAMS

Em 2015, o produtor musical hitmaker e diretor criativo da Louis Vuitton Pharrell Williams se viu diante do júri, uma das raras vezes em que o artista apareceu sem seu estilo icônico: nada de tons alegres, nada de chapéus oversized da Vivienne Westwood. No tribunal, Pharrell trocou o streetwear da Ice Cream e da Billionaire Boys Club por um terno sóbrio, discreto, como se vestisse a persona do “artista em defesa própria”, justificando sua originalidade diante da lei. Durante oito dias de julgamento, ele e Robin Thicke foram acusados de plágio pela música “Blurred Lines”, sucesso global que faturou mais de 16 milhões de dólares em lucros.

A família de Marvin Gaye alegou que o hit copiou a “vibe” e estrutura da obra “Got to Give It Up” de 1977 de Gaye. O tribunal decidiu, Pharrell e Thicke foram condenados a pagar uma indenização que começou em US$ 7,3 milhões, depois reduzida para US$ 5,3 milhões em 2018. A decisão da corte dividiu opiniões entre gravadoras musicais e fãs: Uns viram o caso como um golpe para a inovação, temendo que a indústria passasse a punir referências e inspirações, outros celebraram como sendo uma vitória da ancestralidade musical negra defendendo o direito de Marvin Gaye; um dos pilares do soul ser reconhecido como fonte criativa inigualável. A música “Blurred Lines” se tornou um hit provando que até harmonia têm dono.

5 NAOMI CAMPBELL

Essa não foi a primeira aparição de Naomi Campbell diante da justiça e dos artistas de tribunais. Tudo começou em 2002, quando Naomi processou o Daily Mirror por quebra de confiança e invasão de privacidade, após o tabloide publicar fotos suas saindo de uma reunião dos Narcóticos Anônimos.

O esboço do tribunal foi ilustrado por quatro desenhistas (Priscilla Coleman, Siân Frances, Julia Quenzler e Elizabeth Cook) mostra Campbell depondo, enquanto os dois juízes do caso se aproximam a menos de um metro de distância para ouvir sua voz; um retrato quase teatral de vulnerabilidade VS poder. A modelo venceu o caso em março de 2002; o jornal recorreu, e Naomi venceu novamente em maio do mesmo ano, consolidando sua vitória contra a imprensa do Reino Unido.

Mas a sua relação com os tribunais estava longe de terminar. Em 2006, Naomi foi vista saindo de um tribunal em Manhattan, Nova York após ser acusada de agredir sua assistente doméstica, Ana Scolavino, com um celular BlackBerry cravejado de cristais Swarovski, causando um corte na cabeça que precisou de pontos. E de tê-la expulso de um Peugeot em movimento, episódio confirmado por outras ex-funcionárias que confirmaram o comportamentos agressivo da modelo.

O esboço do julgamento foi feito pela artista Christine Cornell, A ilustração mostra Campbell com cara de remorso, desviando o olhar da juíza. Uma Naomi contida, mas ainda magnética!

Em janeiro de 2007, Naomi se declarou culpada das acusações, recebendo pena de cinco dias de serviço comunitário, uma multa de €239 mil, e frequentar aulas de controle emocional. Dois meses depois, ela apareceu no Departamento de Saneamento de Nova York, pronta pra cumprir a sentença: vestindo um casaco overcoat preto, boné vintage dos anos 60 e saltos Louboutin de 15 cm. As fotos circularam o mundo e o look penitência virou tendência. Naomi transformou sua punição em uma performance individual de moda.

Depois se envolveu em outros dois casos um em 2008, Naomi Campbell foi condenada a 200 horas de trabalho comunitário após agredir dois policiais durante um voo transatlantico e em 2010, depôs no caso dos “diamantes de sangue”, confirmando ter recebido pedras brutas em um jantar de Nelson Mandela, na Africa do Sul. mas negando saber a origem. Disse ter doado os diamantes à Fundação Mandela, dando início a relações sociais e politicas em sua carreira.

6 A$AP ROCKY.

Rocky teve seu rosto esbocado nos tribunais em dois momentos cruciais em sua carreiracomo cantor.Em agosto de 2019, o rapper A$AP Rocky (atualmente diretor criativo da Ray Ban) foi retratado através da arte de tribunal durante seu julgamento em Estocolmo, Suécia. Condenado a prisão em liberdade condicional por agressão e condenado a pagar uma indenização de 12.500 coroas suecas (SEK) à vítima, Mustafa Jafari.

O esboço mostra Flacko, o garoto do Harlem, sentado ao lado de seus advogados, atento, em silêncio, observando cada processo do julgamento. O fundador da A$AP Mob enfrentava acusações após uma briga nas ruas na capital sueca. Mesmo com o peso da mídia global e o olhar frio da justiça europeia, Rocky manteve sua postura vestindo o mesmo olhar firme que carrega nos palcos. 

Condenado, mas com pena suspensa, Rocky foi libertado após cumprir pouco mais de um mês preso. O desenho que eternizou aquele momento serviu como um contraste entre moda, música e sistema judicial.

E mais recente em Hollywood, em 18 de fevereiro de 2025 Rocky foi considerado inocente em uma nova acusação após ser acusado de atirar em Terrell Ephon vulgo A$AP Relli, ex-integrante da MOB de Flacko. O júri o declarou a inocênte das acusações resultando em comemoração de Rocky e sua família no tribunal e alívio ao lado de sua atual esposa Rihanna que o acompanhou de perto no caso. 

O esboço feito por Mona Edwards ilustrou a cena; embora câmeras tenham sido permitidas nesse caso. O esboço mostra o casal atento ao processo, Rocky mostrando-se totalmente imerso no caso , enquanto Rihanna é retratada sentada atrás de Rocky, com um olhar intenso e firme no rosto.

7 KARDASHIAN × BLAC CHYNA

Em 2022, Blac Chyna empresária, maquiadora, strepper e modelo norte americana, moveu um processo de 100 milhões de dólares contra a família Kardashian–Jenner, acusando-as de difamação e interferência contratual após o cancelamento do reality “Rob & Chyna” e o fim de seu relacionamento com Rob Kardashian.

Durante dez dias de julgamento os esboços do tribunal viralizaram nas redes, transformando a audiência em espetáculo digital. No Twitter (X), usuários comentavam o visual de Chyna, descrevendo-a como se tivesse “energia de Cruella de Vil”, enquanto a família Kardashian era retratada como “bruxas” ou algo ainda mais sombrio…

Os esboços feitor principalmente por Mona Shafer Edwards, uma artista de tribunal conhecida por seu trabalho em casos de celebridades de alto nível. Com traços grossos, da artista combinado com a estética delineada das Kardashians, renderizaram perfeitamente o contraste entre realidades e TV.

O júri deu vitória à família Kardashian-Jenner, alegando falta de provas das acusações de Blac Chyna.

9 JAY-Z

Em 2004, Shawn Corey Carter apareceu no tribunal para se defender de um processo movido por R. Kelly, que o acusava de sabotagem e agressão durante a turnê “Best of Both Worlds” projeto que unia os dois artistas no auge de suas carreiras. O valor da ação movida contra Jay-Z foi de 75 milhões de dólares e R. Kelly alegava ter sido atacado com spray de pimenta e sabotado pela equipe de Hov.

Mais tarde, Jay-Z contra-atacou com um contraprocesso, acusando Kelly de comportamento instável, inseguro e financeiramente irresponsável ; uma guerra de egos e poder que transformou o projeto colaborativo em um colapso público.

O esboço do tribunal, porém, levantou atenção por outro motivo: o artista do tribunal (não identificado) que fez o esboços do caso “alterouas feições do rapper, suavizando os traços característicos do rosto de Jay-Z, diminuindo seu nariz e lábios marcantes.

Um detalhe aparentemente estético ou meramente ilustrativo, mas que revelou o racismo estrutural até dentro da representação artística da justiça.

9 R. KELLY

Desde o início dos anos 90, R. Kellyacumulava denúncias de abuso, perseguição e manipulação de adolescentes, mas por décadas conseguiu escapar do sistema judicial, protegido pelo sucesso e pela indústria que lucrou com seu talento inquestionável. Após a virada do século as acusações contra o cantor e compositor evoluíram para crimes graves: tráfico sexual, exploração infantil e produção de pornografia infantil. Em 2021, ele foi finalmente condenado em um julgamento federal por exploração sexual de crianças, trabalho forçado e crime organizado, acusado de recrutar e coagir meninas e mulheres para fins sexuais. Sua sentença: 30 anos de prisão.

No ano seguinte, em 2022, em um novo julgamento em Chicago Kelly foi novamente condenado, desta vez por produzir vídeos de exploração sexual de menores. Sentenciado por mais 20 anos de prisão, dos quais serão cumpridos simultaneamente à sentença anterior.

Através dos esboços Elizabeth Williams e Jane Rosenberg em seus primeiros dias de julgamento o artista celebrado, agora reduzido à sombra de seus próprios crimes em traços frios de carvão e cores pastel.

O que se vê é o peso de uma queda sem chão, revelando um homem quebrado, distante da imagem arrogante que um dia dominou o R&B.

10 MEGAN THEE STALLION × TORY LANEZ

Em agosto de 2024, o rapper Tory Lanez recebeu sua sentença pelo disparo de arma de fogo que feriu Megan Thee Stallion rapper e compositora estadunidense. O episódio dividiu a indústria e revelou as fissuras entre fama, ego e violência de gênero permanente dentro do hip-hop.

Os artistas de tribunal capturaram o momento em traços duros: Lanez, vestindo com o uniforme laranja da prisão de Los Angeles, de pé diante do juiz, implorando por uma pena mais leve.

Mesmo com um apelo emocional e uma defesa pública marcada por tentativas de reverter a narrativa, Tory foi condenado a 10 anos de prisão.

11 SEAN “DIDDY” COMBS

Diddy já conhece bem o banco dos réus. Em 2001, ele enfrentou um júri por tentativa de suborno e posse de arma em 1999, o rapper Sean “Diddy” Combs se envolveu em um tiroteio no Club New York, na cidade de Nova York, junto com sua então namorada Jennifer Lopez e o rapper Shyne. Diddy foi absolvido de todas as acusações e Shyne foi condenado e cumpriu quase nove anos de prisão por seu papel no incidente que feriu três pessoas, causou um impacto legal e público significativo para todos os envolvidos, e uma vítima posteriormente entrou com uma ação civil bem-sucedida contra Diddy. O caso movimentou a imprensa e marcou o fim da era “Bad Boy” como símbolo de ostentação e glamour no hip-hop de Nova York.

O esboço do julgamento publicado anos depois em 2015, mostra um Diddy com visual impecável, mostrando controle total sem quebrar seu personagem público.

Mais de duas décadas depois, o magnata da música reaparece em outro tipo de escândalo desta vez, sem o mesmo brilho.

As novas aparições de Diddy nos tribunais foram eternizadas pelas artistas Jane Rosenberg e Christine Cornell experientes na arte de esboçar o poder sob julgamento. Nos traços delas o olhar estoico de Combs fala mais alto que qualquer depoimento: o peso do império desmoronando em tempo real.

Desde sua prisão em setembro de 2024 Sean Combs não foi mais visto publicamente. Agora, em 2025, foi condenado a 4 anos e 2 meses de prisão por tráfico sexual e abuso, marcando uma virada sombria na trajetória de um dos nomes mais poderosos da cultura pop americana.

12  MARTHA STEWART

Em 2004, a magnata do lifestyle Norte Americano Martha Stewart, trocou as revistas de decoração e receitas por um assento no tribunal federal de Manhattan. Acusada de obstruir uma investigação sobre a venda de suas próprias ações, Martha acabou condenada a cinco meses de prisão. Mas o verdadeiro espetáculo, além do julgamento, foi sua imagem sendo reinterpretada pelos artistas do tribunal. Os esboços de Martha rapidamente se tornaram objeto de debate: a empresária conhecida pelo controle quase militar sobre sua marca e sua aparência não gostou nada da forma como foi esboçada. Ela chegou a confrontar a até então artista do tribunal Marilyn Church. dizendo que havia sido retratada “inchada”, e exigiu que o Wall Street Journal substituísse a ilustração por uma versão mais favorável.  Martha queria o controle do seu próprio enquadramento criminal. E conseguiu.

As artistas Christiane Cornell e Elizabeth Williams se certificou de obter o melhor ponto de vista disponível para desenhar Stewart junto aos seus advogados sentada na mesa de defesa.

A arte do tribunal nesse caso serviu como uma espécie de espelho distorcido para o rebranding estratégico de Martha.

Mesmo dentro da prisão, a empresária manteve a aura de perfeccionismo que sempre a cercou, costurava e modelava seu próprio uniforme de prisão, cultivava flores e orientava as outras presas com “etiquetas”. Ao sair da prisão em 4 de março de 2005 não só recuperou seu império midiático, como ainda reconfigurou a estética da “mulher branca” e poderosa na América do Norte

“Nunca fui uma criminosa. Só não joguei conforme as regras deles.” — Martha Stewart, em entrevista à Harper’s Bazaar (2017).

13 RIHANNA x CHRIS BROWN

Em 2009 vimos o nome de Rihanna sair das paradas de sucesso e ir parar no tribunal não pela sua música, mas envolvida em um casos de agressão protagonizado pelo seu até então namorado Chris Brown, acusado de agredir e ameaçar de morte sua ex-namorada na véspera do Grammy. Durante sua breve aparição no tribunal, acompanhado de sua mãe e de quatro guarda-costas, o jovem de 19 anos na época, compareceu ao tribunal com o cabelo tingido de roxo, com uma aparência que contrastava com a seriedade da audiência. Brown se declarou culpado das acusações e recebeu um acordo de trabalho comunitário e cinco anos de prisão em liberdade condicional com acompanhamento de aconselhamento sobre violência doméstica.

Enquanto Rihanna apareceu no tribunal somente depois que Brown se retirou para acompanhar o caso. Silenciosa, impenetrável, vestida de preto dos pés a cabeça, com o rosto firme sem nenhum traço emocional; mesmo sem falar, dominou o espaço com dignidade e raiva contida.

O caso se tornou um marco na cultura pop, mudando para sempre como os jovens e o público de forma geral via a violência doméstica. Rihanna foi forçada a assistir sua própria dor ser transformada em manchetes e memes, mas, anos depois, superou o trauma e o transformou, reconstruindo sua narrativa através da moda, da música e dos negócios.

Os esboços do tribunal do caso foram criados por Jane Rosenberg.

Hoje, cada vez que Rihanna pisa em um tapete vermelho ou em um palco, é também uma reparação simbólica e um lembrete de que ela sobreviveu, venceu e se tornou maior do que o escândalo que tentaram colar em seu nome.

“Eu não queria ser vítima. Eu queria ser minha própria vingança.” Rihanna, em entrevista à Vanity Fair, 2015

14 SNOOP DOG

Snoop Dogg também passou um tempo sob o olhar atento dos desenhistas de tribunal quando ainda era conhecido como Snoop Doggy Dogg. Em 1993 Snoop Dogg (Calvin Broadus) e seu guarda-costas foram acusados da morte a tiros de Woldemariam membro de uma gangue de Los Angeles. Snoop e seu guarda-costas foi julgado por assassinato e homicídio culposo.

Os esboços do tribunal de Snoop Dogg foram criados por desenhistas anônimos de vários meios de comunicação como The Los Angeles, Times e W Magazine que publicaram os esboços dos procedimentos atraindo total atenção do público e da mídia.

Snoop e seu guarda-costas foram absolvidos de todas as acusações em primeiro e segundo grau em fevereiro de 1996. O júri permaneceu em um impasse quanto às acusações o que levou a uma anulação de algumas acusações. A família de Woldemariam entrou com um processo por homicídio culposo contra Snoop Dogg, que foi resolvido fora do tribunal pago por uma quantia não revelada. O caso foi finalmente encerrado apenas em 2024 após duas décadas.

13 PARIS HILTON

Em maio de 2007, o tribunal de BeverlyHills virou um episódio de realityshow ao vivo: Paris Hilton, herdeira, DJ e musa da cultura Y2K, chegou atrasada para o seu próprio julgamento vestindo um terno listrado cinza e branco, combinando com seu sorriso blasé e um olhar que parecia dizer: “isso tudo é muito low budget pra mim”.

Em 7 de setembro de 2006, Paris Hilton foi flagrada dirigindo embriagada em seu Mercedes-Benz McLaren SLR e não passou no teste de sobriedade (seu nível de álcool no sangue era de 0,08%, um limite legal). No tribunal, Paris Hilton se declara inocente de dirigir de forma imprudente por causa do álcool e é condenada a três anos de liberdade condicional, multada em US$ 1.500, tendo a frequentar um programa de educação sobre álcool, e teve sua carteira de habilitação suspensa, em janeiro de 2007. No mês seguinte em Fevereiro, Paris foi novamente flagrada dessa vez dirigindo com a carteira de habilitação suspensa, violando sua liberdade condicional. O juíz a sentenciou por 45 dias de prisão. Ela cumpriu uma sentença reduzida de 23 dias devido ao bom comportamento.

Os desenhista Mona Shafer Edwards and Bill Robles, capturaram o procedimento jurídico; entre lágrimas, cílios postiços e flashes um detalhe se tornou folclórico, sobre Paris ter retocado sua maquiagem no meio da audiência.

Três dias depois de presa, Paris foi libertada por “razões médicas”, uma decisão que revoltou a opinião pública. O xerife de Los Angeles mandou que Paris voltasse imediatamente à prisão para cumprir a pena completa. O trajeto de sua mansão em Hollywood Hills para cela em Lynwood foi acompanhado por helicópteros e câmeras de TV em tempo real., Paris Hilton transformou a humilhação pública de seu julgamento e veredicto em algo que só agora em 2025 foi ressignificado com o que ficou conhecido como “bimbo-core”, uma estética estereotipada de uma mulher fisicamente atraente, loiras com maquiagem excessiva e e roupas decotadas,. O episódio reafirma Paris Hilton como o símbolo máximo da era pré-Instagram: onde a estética dos colapsos e a punição se misturavam mesmo durante a audiência judicial.

“Não sou uma criminosa. Sou uma boa pessoa. Só estou cansada de ser julgada por ser eu.” – Paris Hilton, chorando no tribunal, 2007

14 AMY WINEHOUSE

Em Londres 2009, no tribunal de Westminster, Amy Winehouse ícone do soul britânico apareceu miúda, trêmula, mas intacta em sua aura beatnik-punk com cabelos colmeia preso com grampos, delineador gatinho exagerado, e um olhar que misturava coragem e vulnerabilidade. Amy foi a julgamento após ser acusada de socar uma dançarina Sherene Flash durante uma abordagem para um momento de foto em um evento de caridade em 2008. No Tribunal de Magistrados de Westminster, Amy Winehouse foi considerada inocente de ter dado um soco na dançarina afirmando que apenas a empurrou em legítima defesa por se sentir ameaçada reagindo a um toque inesperado, em meio a Flashes, álcool e caos.

Em um determinado momento durante o seu julgamento, Winehouse se levantou para demonstrar sua altura de 1,59m, calçando sapatilhas baixas em contraste com a suposta vítima consideravelmente mais alta e de salto alto. A atitude espontânea se transformou em um momento icônico no tribunal: Amy surge encolhida, magra, mas ainda radiante, como se o tribunal fosse apenas mais um palco sem aplausos, provando fisicamente que sua força era mais poética do que corporal.

Veredito inocente,o juiz considerou que, devido ao estado de embriaguez de ambas, não foi possível ter certeza do que realmente aconteceu, resultando na absolvição da cantora. 

Os esboços de Amy Winehouse no tribunal foram feitos por Priscilla Coleman, uma conhecida artista britânica de tribunais que registrou Amy demonstrando sua pequena estatura ao esticar sua perna para afirmar sua defesa.

Devido à essa acusação, Winehouse foi proibida de entrar nos Estados Unidos e não conseguiu obter um visto para se apresentar no festival Coachella em 2009

“Não sou violenta, sou uma cantora. Só quero cantar.” Amy Winehouse, 2009

15 MARTIN SHKRELI

O rosto frio e o sorriso torto de Martin Shkreli, conhecido como“Pharma Bro”, ficou eternizados também nas páginas dos artistas de tribunal. Ex-CEO da Turing Pharmaceuticals, Shkreli se tornou um símbolo do capitalismo em 2015, quando aumentou o preço do medicamento Daraprim, essencial para pacientes com HIV, em mais de 4.000% de 13,50 para 750 dólares por comprimido. Condenado em 2017 por 7 anos de prisão, por fraude de valores mobiliários, e acusado de enganar investidores, multa de 64,6 milhões de dólares e a proibição permanente de atuar como executivo em qualquer empresa de capital aberto. Mesmo assim, Shkreli parecia não entender a gravidade do caso chegando a sorrir ao ouvir o veredito.

No tribunal a desenhista Elizabeth William mostra não só o terno mal ajustado e o cabelo desalinhado do executivo, como também registra Shkreli com seu habitual ar de desdém, que nem a condenação conseguiu apagar. Um retrato fiel do homem que a mídia apelidou de “o mais odiado dos EUA”.

Libertado em 2022, o “Pharma Bro” voltou às redes sociais como se nada tivesse acontecido.

16 LINDSAY LOHAN

O ano era 2007, e o estrelato de Lindsay Lohan ex-queridinha da Disney e ícone pop, começava a desmoronar sob o peso de sua própria fama. Em agosto de 2007, durante seu julgamento em Los Angeles, Lohan se declarou culpada de dirigir sob influência de álcool e posse de cocaína, além de direção imprudente. A estrela de Means Girl passou apenas 84 minutos na cadeia (por conta da superlotação) e recebeu três anos de liberdade condicional, tendo de frequentar aulas sobre álcool, reabilitação e acompanhamento psiquiátrico. Durante os anos, Lindsay faltou a diversas sessões do curso de reabilitação, descumpriu horários e testou positivo para uso de drogas. Em 2010, a juíza Marsha Revel estendeu sua condicional por mais um ano e o tribunal emitiu nova ordem de prisão. Lindsay foi condenada a 90 dias de prisão, mas cumpriu apenas 13 por superlotação carcerária.

Foi nesse contexto que nasceu um dos esboços mais icônicos do tribunal moderno: A cada audiência, a artista de tribunal Mona Shafer Edwards estava lá para registrar com olhar clínico mais uma estrela em colapso público.

Na imagem, Lohan surge abatida mas ainda teatral sendo levada algemada, usando saltos Christian Louboutin ,cabelo preso, expressão fria, corpo rígido o luxo contrastando com o chão frio do tribunal.

A desenhista fez questão de desenhar as solas vermelhas. O público reagiu com fascínio e sarcasmo. Um registro perfeito de uma geração que confundiu fama com impunidade.

“Ela parecia pronta para um ensaio da Vanity Fair, não para ouvir uma sentença.”

17 TAYLOR SWIFT

Em 2017, Taylor Swift foi a tribunal em Denver, Colorado, processar o ex-radialista
David Mueller
, que ela acusava de tê-la apalpado durante uma sessão de fotos em
2013
. Durante o julgamento, a cantora prestou depoimento firme, descrevendo o incidente como “horrível e chocante” e rejeitou a versão de Mueller de que teria sido apenas um empurrão ou confusão. Testemunhas corroboraram sua versão, inclusive sua fotógrafa, Stephanie Simbeck, que afirmou ter visto o radialista tocar suas nádegas, e seu segurança, Greg Dent, que disse que viu a mão dele sob sua saia. O júri decidiu a favor de Taylor Swift. Mueller foi considerado culpado de assault and battery (agressão e contato físico inapropriado), e Swift recebeu US$ 1 de indenização como gesto simbólico

O esboço do caso tomou proporções extra-judicial, a base de fãs da cantora não gostaram dos esboços do artista Jeff Kendyba que foi depois compreendido que, mesmo uma celebridade conhecida pode parecer comum ou até irreconhecível dentro de um tribunal.

Os esboços de tribunal vão muito além da técnica; eles capturam o instante em que a vida pública encontra a justiça, a fama, o poder e a vulnerabilidade se entram em um comum acordo . Cada traço de carvão ou marcador registra não apenas a aparência, mas principalmente o drama humano: os olhares, as tensões, os gestos que narram histórias que câmeras muitas vezes não conseguem. A arte do tribunal transforma julgamentos em memórias visuais, eternizando momentos em que celebridades, magnatas e ícones culturais são despojados da aura midiática e reduzidos à essência de suas ações e emoções. É uma crônica silenciosa, mas poderosa da justiça em ação. No fim, esses desenhos permanecem como testemunhos intemporais, lembrando que a história da justiça não é feita apenas de vereditos, mas também de olhares, gestos e sombras, tudo registrado no papel pelos olhos atentos de artistas e desenhistas, verdadeiros historiadores visuais do drama humano.