Projeto do coreógrafo e pesquisador Mário Lopes reúne 20 ações entre apresentações, diálogos abertos e oficinas.
De outubro/25 a março/26
Em um país em que o corpo negro segue alvo de violência, silenciamento e exclusão, a arte se levanta como território de resistência e invenção. É nesse contexto que nasce a circulação Afrotranstopia – Movimentos Coreográficos, projeto do coreógrafo e pesquisador Mario Lopes, que inicia suas atividades no dia 14 de outubro de 2025, com o Workshop Afrotranstopia: Salivando e Gerando Espumas, realizado no Centro Cultural Santo Amaro, periferia da Zona Sul São Paulo.

A programação segue intensa: nos dias 17, 18 e 19 de outubro, o projeto ocupa o palco do Teatro Paulo Eiró; nos dias 24, 25 e 26, chega ao Sesc Belenzinho; e nos dias 11, 15 e 16 de novembro, a mostra encerra sua temporada paulistana no Teatro Arthur Azevedo, antes de seguir para Sorocaba, onde será apresentada em março de 2026. A mostra, produzida pela Alakoro Produções, conta com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas do Governo do Estado de São Paulo, para as apresentações realizadas no Teatro Paulo Eiró, no Teatro Arthur Azevedo e em Sorocaba. O projeto apresenta a trilogia Movimento, composta por Movimento I – Parado é Suspeito; Movimento II – Kodex Konflikt; e Movimento III – Celebration, Espumas Pós-Tsunami, acompanhada de rodas de conversa (diálogos abertos) e oficinas formativas. Ao todo, serão 20 ações gratuitas, com recursos de acessibilidade e com público estimado em mais de 1.100 pessoas.

A trilogia Movimento se consolida como marco da dança negra contemporânea ao articular memória, ancestralidade e futuro em obras que combinam potência estética e urgência política. Enquanto Parado é Suspeito e Kodex Konflikt tratam diretamente do racismo e da violência contra corpos negros, Celebration, Espumas Pós-Tsunami afirma a celebração como gesto de cura coletiva.

O ciclo se completa com os Diálogos Abertos, realizados sempre após a exibição do filme Movimento III, encontros que aproximam artistas, pesquisadores e público em conversas sobre identidade, resistência, tecnologia e transformação social. A programação inclui ainda as oficinas Afrotranstopia: Salivando e Gerando Espumas, espaços de criação e troca em que Mário Lopes compartilha metodologias e processos de sua pesquisa com estudantes e jovens artistas, transformando o aprendizado em gesto e o gesto em reflexão.
Afrotranstopia é o movimento onde corpo e código se misturam.

Um laboratório de existência em que cada gesto, respiração e silêncio se tornam dados para a construção de um outro mundo possível. Inspirada na tese “Espumas: algoritmos coreográficos”, de Mario Lopes, a criação propõe que o corpo negro é, por si só, um sistema de informação e ancestralidade: um arquivo em constante atualização. As espumas, metáfora central da pesquisa, representam as matérias que resistem à solidez colonial são resíduos, fragmentos e memórias que escapam às lógicas de controle e se recombinam em novos sentidos. A afrotranstopia opera nessa instabilidade: dissolve hierarquias, desobedece à linearidade do tempo e transforma a dor em potência de criação. Cada corpo é um algoritmo que aprende com a fricção do encontro, com o erro, com o improviso. Nessa poética, dançar é especular, codificar, reprogramar. É transformar a coreografia em ferramenta de cura e insurgência. Afrotranstopia é também rede e rito, espaço de comunhão onde tecnologias afroindígenas se atualizam, conectando o visível e o invisível. Ao propor a dança como código vivo, o projeto afirma que não há separação entre arte, política e espiritualidade: tudo pulsa no mesmo circuito de vida. Afrotranstopia é, assim, o corpo pensando o mundo e o mundo, enfim, aprendendo a dançar. Mais do que espetáculos, Afrotranstopia é um espaço de criação de rede e especulação de futuros. Como define o próprio Mario: “Afrotranstopia é antes de tudo realização. É uma questão política realizar sonhos considerados distantes das existências negras.”
Mário Lopes é coreógrafo, pesquisador e articulador de práticas artísticas que emergem da diáspora africana. Criador da Afrotranstopia, seu trabalho atravessa dança, política, ancestralidade e tecnologia, unindo estética e crítica social.Reconhecido pela trilogia Movimento e pela pesquisa Algoritmo, que pensa a coreografia como ponte entre territórios físicos e digitais, Mario já apresentou suas obras no Brasil e em diversos países da Europa, reunindo artistas multiculturais em torno de processos colaborativos.
Atualmente, conduz a formação de uma companhia de dança no Brasil e a implantação do Instituto FOAMS, uma escola contra-acadêmica e anticolonial que articula arte, educação e hospitalidade. Sua prática é marcada por uma convicção: o corpo negro é arquivo vivo e tecnologia de invenção de futuros.
A Alakoro Produções é responsável pela realização e produção do projeto Afrotranstopia – Movimentos Coreográficos. Com atuação voltada para a valorização da arte negra e periférica, a produtora aposta em processos colaborativos, acessíveis e de impacto social. Sua missão é criar condições para que artistas negros e suas obras circulem, sejam reconhecidos e alcancem diferentes públicos.
A Alakoro Produções tem consolidado sua presença em projetos de dança, teatro, música e artes integradas, sempre com foco em fortalecimento de redes culturais e promoção da diversidade como prática central.