Chamada com Malcom VL.

TV, Moda, e o Álbum: Eu vim de GR.

Uma conversa rápida e sem complicações que introduz o público a conhecer a base de artistas da nova geração.


Introdução e Contexto Pessoal.

Nic: Pra começar, você está onde, em casa?

Malcom: Sim, estou em casa.

Nic: E você nasceu onde?

Malcom: Eu nasci em Guarulhos.

Nic: Não sei porque achei que você era carioca!

Malcom: Muita gente pensa.

Malcom: Você sempre morou aqui?

Malcom: Eu sempre morei em São Paulo, mas eu ia muito para o Rio.
Tenho bastante amigos lá, então tem uma galera que pensa que eu sou de lá também.

Nic: Quantos anos você tem?

Malcom: 21 anos.

Nic: Qual seu signo?

Malcom: Aquário.

Nic: A gente se conheceu brevemente num trampo e durante o ano ficou muito comum ver seu rosto em vários e vários comerciais, né? Como aconteceu tudo isso?

Malcom: Real, nossa, fico feliz que os trampos estão fluindo. Já estava trabalhando com moda há muito tempo, desde os 14, 15 anos, e já estava galgando isso.

Malcom VL em primeiro editorial de moda.

Início na Moda e Publicidade.

Nic: Como você caiu na publicidade e em estar em frente às câmeras? Você foi convidado ou era algo que você já buscava?

Malcom: Então, eu sempre gostei, tá ligado? Sempre curti! Não sabia como e nem quando seria isso, mas eu já tinha algumas ideias na minha cabeça.

Nic: E quais foram esses empregos que você teve?

Malcom: …eu sempre trabalhei com tudo isso que eu faço hoje, desde o lance da moda.

Malcom: Eu tinha um parceiro que é meu aliado até hoje, agora a gente trampa junto – meu produtor também, é o Moah.

Malcom: Eu tive só dois empregos de carteira assinada na vida, porque depois que eu entrei para a moda, não consegui sair, de verdade, da arte de maneira geral.

Malcom: …entrei com 14, 15 anos na moda.

Nic: Começou bem cedo! E a música entrou como? Você já fazia, curtia ou algo que você também foi fazendo e viu que deu certo?

Malcom VL em editorial de moda durante a adolescência. 

Música e Influências.

M: Eu já consumia música. No meio desse período, apesar de ter esses dois trabalhos que eu comentei, eu conseguia achar um tempo para treinar.

M: Eu tentei ser jogador de futebol também, então a música já era trilha sonora.

M: Eu tinha uns 13 anos, saía de Guarulhos para poder ir para o centro de treinamento, e nisso eu acabei conhecendo São Paulo toda.

N: Você andava pela cidade ouvindo música, e o que tocava no seu fone nessa época, você ainda consome as mesmas coisas?

M: Primeiro, eu cresci numa família que é geral da congregação, família evangélica. Não que eu fosse privado de ouvir música secular, mas o que tocava em casa era música gospel, tipo Kirk Franklin, Aretha Franklin e black music mais gospel. E aí, quando eu saía de casa pra fazer alguma parada, já trombava direto com o funk consciente. Ouvia muito MC Daleste, e aquilo já ia me balançando. Mas quando eu encontrei com o rap, foi um match perfeito e eu quis ouvir tudo indo pra base do que era aquela cultura, e não parei mais: Racionais, RZO, Dexter, Helião, Trilha Sonora do Gueto, Emicida “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe” e fui embora

M: Então, no caminho de um lugar para o outro no transporte, eu sempre levava um caderno e escrevia poesia marginal, escrevia várias letras!

M: Eu comecei a querer saber quem era o Marvin Gaye, o Lion Archer de que o Mano Brown falava tanto, e na MPB o Jorge Ben Jor, Cassiano, e me apaixonei pela música.

N: A relação com sua família, com sua mãe… Qual o papel deles na sua construção de homem preto nesse mundo do showbiz? É um mundo cruel se você não souber se equilibrar. Eles te apoiam nesse sentido, trazem forças?

Família Malcom

M: Mano, quando você é adolescente, você não consegue perceber ou não sei… não consegue ter essa sagacidade, e o olhar mais aguçado para ver como a base familiar é importante. Então, minha família é preta, periférica e tal, e às vezes, por não ter acesso a uma coisa que parece ser muito fútil, mas que no momento era importante, como um tênis ou roupa de marca, principalmente numa época como o Natal, eu estaria louco nesse exato momento por não conseguir ter o tênis ou se minha mãe não fosse comigo na 25 de março buscar uma calça jeans. Nessa época, eu era um moleque extremamente revoltado, muito, muito revoltado, com tudo! Com o sistema, com quem era “boyzão”, tinha várias questões comigo. Hoje, eu já sou mais estrategista. Nesse momento como jovem você não consegue entender, mas quando passa o tempo você vê como a base familiar era importante, ter uma mãe que faz tudo por você ou um pai que não fala tanto, às vezes, pelo avô não falar e demonstrar tanto palavras de afeto como “eu te amo”, mas que estava sempre dentro de casa, fez uma diferença na minha vida. Por mais que seja uma família pobre e preta, eu era um dos únicos dentro do bairro todo que tinha pai e mãe e aquilo foi me batendo diferente ao longo do tempo,  fui percebendo como ter um berço era importante. Por mais que minha família não seja perfeita eu comecei a fortalecer mais esse laço. Ao começar a ir para o centro de SP ver como a galera vivia adoidado, como você falou no meio da moda, em que se fazia umas campanhas muito loucas e acabavam se dispersando, o dinheiro que vinha já gastava rápido, não durava uma semana, um mês, eu pensei: “a família é o berço então tenho que voltar”. Eu quem fui criando essa relação. Muita gente fala “caraca, sua família!”… Tem várias arestas, diversas, mas eu preferi trazer para perto e esse berço familiar me deu base para eu não me dispersar e não ir para um caminho errado rápido.

N: Sua autoestima mudou conforme você ia se vendo mais ou sempre foi um cara que se achava bonitão? Como que se expor mudou isso?

M: Eu vivi em alguns polos, tinha épocas em que eu me achava bonitão! Quando eu cortava o cabelo eu me achava o cara, fazia um risco, me achava louco.

E quando eu vi um tio meu, finado Nanquim, de Puma Disk vermelho, eu falava “pode pá, a gente é bonito “

Tio Nanquim, referência para Malcolm VL.

Viagem Internacional e Experiências.

Nic: Com tudo isso, tem algum momento favorito nesse último ano ou é muita coisa pra escolher?

M: A experiência de poder ir pra fora do país – primeiro pra Londres, depois pra outros picos – era pra entender como é que estava meu inglês de verdade.

M: Londres foi louco, um choque de realidade. Eu via os moleques pretos iguais a mim com uns 18 anos dentro de uma BMW, uns dirigindo Tesla, aquele bagulho me chocou…

N: E qual nota você deu pro seu inglês no final da viagem?

M: Dez! Falando até com as paredes, foi dahora. Como eu era um turista eu fazia questão de me perder só pra conversar com as pessoas, não tinha horário pra chegar em lugar nenhum, sem compromisso, (apesar de ter feitos várias conexões la, ir pra estúdio e fazer música -apesar de não ter conseguido fazer nenhum editorial – fui em uns  picos bem loucos, fiz conexões com vários rappers). Eu fazia questão de me conectar principalmente com a galera preta, via eles e conversava mesmo, trocava ideia… Nisso conheci uns caras que tinham uma igreja africana com pessoas de vários lugares da áfrica como nigéria e outros e sem perceber na semana seguinte eu tava jogando futebol com eles, fiz vídeo e fotos, consegui me conectar de verdade com a galera e vi que meu inglês tava bom.

Em viagem à Londres. reprodução do instagram

Álbum “Eu vim de GR” e Projetos Futuros.

N: Pra gente introduzir a questão do álbum, como foi pra você o processo? E ver no ar finalizado, qual a sensação?

M: Na minha cabeça, eu já visualizava ele pronto.

N: Tem alguma collab ou música favorita desse ou cada uma tem um espaço especial?

M: Eu já tive três músicas favoritas! Quando eu fiz o álbum, a música favorita era “Hustle“, agora é “Balaclava“, mas também tem “Pelos Nossos“, então toda semana que vai passando eu vou no estilo “Maria vai com as outras“…

M: Mas cada música é importante pra mim pois são com artistas que eu realmente admiro e que me deram essa moral também.

N: Bom que o álbum parece que foi uma reunião dos momentos e das experiências do ano.

M: Eu tô curtindo o álbum, apesar de que lançamos agora um primeiro clipe que é o “Dias sem Dormir“, o primeiro do álbum e a primeira faixa.

N: Tem algum projeto de videoclipe?

M: …vou esperar que a galera continue falando quais são as faixas favoritas e em cima do que tiver bombando e futuramente fazer mais clipes e shows. Ainda não teve um show de lançamento do álbum.

M: Vocês estão convidados a irem e estar junto.

N: Tem algum recado pra quem está na mesma correria e tá desmotivado, sem ver muito futuro?

M:  Com certeza, uma das coisas que fez com que eu virasse a chave também foi me juntar com pessoas que acreditam em mim e que consequentemente eu também acredito nelas pra me juntar por um ideal. Acredito que foi assim com a Mooc e com outros coletivos, agora a gente está com a RP Company também. No meu álbum todo participaram só pessoas que acreditavam na minha ideia e vice-versa.

Eu já tentei participar de vários grupos e não deu certo, porque às vezes você quer entrar numa visão que já está formada, monta sua visão, seu terreno.